Léo Dias

Para quem acompanha de perto os Trapalhões desde a década de 1970, sabe que uma questão entre os artistas foi a divisão do dinheiro dos filmes originais envolvendo Renato Aragão, Zacarias, Mussum e Dedé Santana. Pessoas próximas e alguns fãs acusam o Didi de ter tirado vantagens sobre os demais integrantes, o que teria gerado desentendimentos ao longo dos anos. O portal LeoDias teve acesso a contratos que mostram como era a grana era partida dentro do grupo.
A nossa reportagem conversou com fontes próximas e familiares dos quatro artistas, que nos contaram que, realmente, Renato Aragão tinha direito a maior parte dos vencimentos. O eterno Didi Mocó era dono da Renato Aragão Produções, empresa que assinava todos os filmes dos Trapalhões.O portal LeoDias teve acesso a contratos referentes a quatro diferentes filmes dos Trapalhões entre os anos 1981 e 1984. Renato Aragão nunca teve uma porcentagem menor que 70% nos lucros das produções, mas, com alguns motivos para isso.
Fontes do portal revelaram que o Didi tomava todos os riscos da produção, além do investimento e trâmites burocráticos. Ou seja, se a produção fracassasse, iria tudo nas costas de Renato Aragão e sua empresa. Dentre pessoas que consultamos para esta reportagem, estão familiares diretos dos Trapalhões, que pediram para não ter seus nomes revelados.
No filme “Os Vagabundos Trapalhões”, por exemplo, a divisão foi de 82% para Renato e 18% para os demais, com 6% para cada um. Em “Cinderello Trapalhão”, a cota ficou 75% para Aragão e 25% para a Demuza, empresa criada por Dedé, Mussum e Zacarias.
No “Saltimbancos Trapalhões”, a divisão estava planejada no mesmo modelo de 75/25, mas a Demuza pediu um adiantamento do valor, abrindo mão de valores a receber. A divisão final ficou 88% para Renato e 12% para o resto da trupe.
Todos estes contratos, que tivemos acesso, datam antes de 1983, quando ocorreu uma enorme briga entre os Trapalhões e Renato Aragão. Na discussão, eles pediam uma divisão maior, e com contratos firmados nas pessoas físicas, ao invés da Demuza.
Recebemos um exemplo do novo modelo de contrato, para o filme “Os Trapalhões no Reino da Fantasia”, que foi lançado em 1985. No novo contrato, a maior parte dos ganhos ainda estavam com Renato, com 79%. Mussum, Zacarias e Dedé ficaram com 7% cada.
Apesar das delimitações nos contratos, uma fonte disse ao portal LeoDias que ainda existiam outras variáveis, como o diretor ter direito a 5% dos ganhos, que não entravam nestes documentos.
Na TV, por exemplo, a banda tocava de outra forma, já que a Globo remunerava os artistas por meio de cachê.
Renato Aragão injusto?
Esta concentração de dinheiro dos filmes dos Trapalhões na mão de Renato rendeu muitas discussões e polêmicas nas últimas décadas. Rafael Spaca, por exemplo, se posiciona como um anti-Didi para lançar o documentário “Trapalhadas Sem Fim”, em produção desde 2018.
O portal LeoDias conversou com fontes que asseguraram que Renato Aragão nunca foi uma pessoa injusta, e tinha seus motivos para concentrar a renda vinda dos filmes. Como dito anteriormente nesta reportagem, todo o risco do lançamento era para a empresa do Renato, além do chamado “Know How” para a produção e venda para a distribuição e patrocinadores.
Apesar dos vencimentos menores nas mãos dos colegas, Renato nunca deixou faltar nada para eles. Dedé Santana, por exemplo, tem o plano de saúde pago por Aragão até hoje, e mantém uma boa relação com o humorista.
Uma fonte disse à reportagem que Dedé só não está em uma situação financeira melhor porque não soube administrar o dinheiro que ganhou com os filmes e os Trapalhões em si.
Mussum foi outro que aproveitou bem a vida até o final, segundo um familiar direto, que foi ouvido pelo portal. Segundo a fonte, o artista morreu com lancha e bem de vida, com uma longa agenda de viagens com a família Aragão.
Num aspecto geral, todas as fontes confirmaram que existiram brigas e essa questão do dinheiro foi delicada durante alguns anos da relação entre os Trapalhões. Porém, o pensamento geral é de que “tudo foi superado”.