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O crescimento no número de casos de obesidade tem preocupado especialistas de diferentes áreas de saúde. O alerta chega após a Atlas da Federação Mundial da Obesidade divulgar um levantamento indicando que o número de pessoas que enfrenta a doença é de 1 bilhão e pode passar a ser 1,5 bilhão nos próximos cinco anos.
A temática também se tornou alvo de acompanhamento no contexto da Bahia. Em entrevista a reportagem do BN, o médico endocrinologista e coordenador médico do Hospital da Obesidade, Cristiano Gidi explicou que existe um crescimento expressivo na quantidade de casos de obesidade no estado.
“Existe um aumento muito grande de número de casos de obesidade aqui na Bahia. O estado se enquadra no contexto mundial de forma semelhante ao que está acontecendo no restante do mundo. Está havendo um crescimento exponencial [de obesidade]. Para o nível de comparação, no mundo, em 2010, existia 1,6 bilhão de pessoas acima do peso. Esse número está crescendo para uma previsão de 3 bilhões, ou seja, dobrou praticamente em 20 anos. Então, a tendência de aumento é muito grande”, comentou.
O médico reforçou ainda acerca da tendência no crescimento de pacientes com obesidade no estado. “Infelizmente existe uma tendência de aumento do número de casos de obesidade aqui na Bahia e também no resto do mundo. Isso reflete o ambiente obesogênico, que é aquele ambiente que favorece o ganho de peso em que nossa sociedade moderna vive. Reflete também na ausência de políticas públicas mais efetivas com relação ao combate da obesidade. Algumas regras que poderiam estar sendo adotadas no sentido de diminuir o acesso a alimentos ultraprocessados, na facilitação do acesso a alimentos mais saudáveis, facilitar a prática de atividade física. Essas ações precisam ser tomadas de forma geral para que a sociedade possa apresentar uma menor taxa de crescimento da obesidade e quem sabe uma redução”, considerou.
O endocrinologista elencou também as principais causas que impactam no sobrepeso de pacientes. Entre os motivos estão o alto índice de sedentarismo, consumo de alimentos hipercalóricos, entre outros. Ele ainda chamou atenção para crianças consideradas obesas.
“A gente pode listar vários fatores, mas o sedentarismo é um dos principais. Cada vez mais existe uma população com um alto índice de sedentarismo e o acesso a alimentos hipercalóricos, hiperpalatáveis contribuem para o excesso de peso. Eu chamo a atenção da obesidade infantil, porque o que acontece é que uma criança obesa tem uma probabilidade de se tornar um adulto obeso. Muitas vezes é na infância que nós podemos ter ações mais efetivas no sentido de ajudar a prevenir que essa pessoa se torne um adulto com obesidade”, disse.
O especialista elencou também quais condições e doenças crônicas podem ocorrer em decorrências de excesso de peso. “A obesidade é causa de diversas situações como diabetes, problemas cardíacos, hipertensão, mas também de outras patologias que não são tão divulgadas como insuficiência cardíaca. Diversos tipos de câncer têm sua prevalência aumentada em pacientes com excesso de peso”, revelou Gidi.
TRATAMENTOS
O médico ainda explicou quais os casos em que pacientes com um peso em extremo são submetidos a tratamentos. “Os pacientes que buscam internamento para tratamento da obesidade, geralmente são aqueles com obesidade severa e bastante avançada, pacientes que tentaram muitas vezes perder peso sem o resultado satisfatório. Alguns já passaram por cirurgia bariátrica e tiveram reganho de peso, outros pacientes têm contraindicação para outras modalidades de tratamento como cirurgia ou alguns tratamentos farmacológicos. Muitos pacientes têm história de limitação de locomoção, comorbidades, limitação psiquiátricas. São pacientes que também apresentam quadro depressivo, quadro de transtorno de ansiedade, o que dificulta a resposta ao tratamento com outras abordagens”, observou o profissional.
Um desses pacientes que passaram por um tratamento para perder peso foi o Demetrio Barreto, de 36 anos. Cerca de dez anos atrás, o empresário pesava 190 quilos antes de começar seu tratamento no Hospital da Obesidade, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS).
Ele contou que, mesmo após eliminar os quilos em excesso, ainda participa de manutenções mensais na unidade de saúde com profissionais de diferentes segmentos.
“Fui internado no hospital da obesidade em 2016, fiquei internado lá sete meses. Hoje faço manutenção. Todo o mês, eu passo quatro dias em tratamento. Nesses quatro dias eu passo pelo endocrinologista, pela equipe multidisciplinar, nutricionista, psicólogo, ortopedista, fisioterapia. Eu tenho uma doença que é a obesidade. Então, não tem prazo para terminar essa manutenção. Meu máximo de peso em 2015 era de 190 quilos. Hoje tenho 98 quilos”, contou Barreto.